Fui, hoje, àquele café, quando pingos da noite já escorriam por entre becos e ruelas, onde outrora, costumávamos ir amiúde.
Entrei a medo, de um modo furtivo, a minha boina enterrada, o cachecol quase a cobrir-me a cara (dei por mim a desejar uma burka), não fosses tu estar sentado na mesa do canto que, em tempos, fora nossa, de jornal em punho, enquanto outra, que não eu, à tua frente, de caneta na mão e sodoku em pedaço de jornal rasgado.
Não estavas. Senti alívio! (não senti nada) tal era o receio de que pensasses que lá ia só para te ver (e ia)!
Sentei-me à mesa, na do canto, a nossa. Pedi dois cafés, um copo de água e meio whisky com duas pedras de gelo. Vê, como ainda me lembro! Não puxei do pedaço rasgado do jornal. Apetecia-me contemplar-te. Há tanto tempo que não te via! Achei-te um pouco mais magro e com mais alguns cabelos brancos. Mas, em tudo, estavas na mesma.
É o dia do teu aniversário. Os anos passam e o teu encanto aumenta.
Agarrei, firmemente, as palavras que saíam de ti e que me diziam em surdina o quanto ainda me amavas.
Afinal, só dois anos se passaram. Dois anos, três meses e 9 dias. Enquanto, lentamente, mexia com a colher o açúcar na tua chávena, entretive-me a fazer contas. Havia 831 dias que não ouvia a tua voz rouca e grave, doce e serena, não sentia o teu olhar quente e sedutor, não tinha as tuas mãos a desenharem o meu corpo abandonado e só.
Enquanto bebericava pequenos goles do teu whisky, em horas, (também fiz a conta) dava 19.944, passadas, sem o calor do teu corpo, sem a carícia do teu sorriso.
A saudade de ti fez-me apertar o copo nas mãos, para não deixar correr, em cascata, as lágrimas que me toldavam os sentidos.
Fiz-te beber o café de um só trago, enquanto quase me engasgava numa ânsia de te ter, sem sentir a dor que me trespassava o peito.
Estendi a mão por sobre a mesa e a tua foi de encontro à minha. Estava quente. O contacto teve o efeito de um choque eléctrico. Estremeci de prazer e, com ele, veio o desejo. Cerrei as pernas, uma de encontro à outra, mas não consegui evitar um quase orgasmo, espasmo de prazer entrelaçado em espasmo de dor.
Acendi um cigarro, inspirei profundamente numa vã tentativa de acalmar a explosão de emoções que, em turbilhão, me estonteavam, me nauseavam, e um vómito que se desenhava nas entranhas, ao olhar pela janela e ver-te, acompanhado, de braço dado com alguém que, certamente, também traria o pedaço rasgado de jornal. E um caminhar lento de encontro ao café, talvez à mesa do canto, à nossa, mas já não nossa, mas vossa, e eu, encolhida, a rodar o corpo, qual serpente ou réptil ou camaleão também, a cobrir-me melhor com o casaco, o cachecol, as duas mãos a enterrarem mais a boina (dei por mim a desejar uma burka). Tu, à porta, cavalheiro, a senhora primeiro, os dois, levemente assarapantados, a mesa ocupada, eu, nela, nós, já não nela, a escolherem uma outra, num canto, também, mas do lado oposto.
Eu, aliviada, de costas, é certo, mas a conseguir ouvir a tua voz, o teu riso. Presa a ti e
Mas eu… mas eu, totalmente ignorada.
Sem o querer.
Olha para mim. Reconhece-me. Levanta-te, vem até mim. Abraça-me. Mata as saudades que sei que tens de mim (sei?), atira-as ao chão depois de as amarfanhares, pisa-as, cospe e dá um pontapé, daqueles certeiros, num ponto vital que mata. E diz, meu amor. Diz, uma vez mais, só mais uma vez, que me amas! Mesmo que não seja verdade.
Faz com que a minha contagem possa recomeçar do zero.
Porque, em minutos, são 1.196.640.
E o tempo, como sabes, não pára.
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. RIP
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. R.I.P.
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