Pari-te naquele dia chuvoso, quando passei a pé em frente a uma vitrine e te vi solta, terna e meiga e os teus olhos, os teus olhos que mais tarde, bem mais tarde, ficaram totalmente brancos, os teus olhos presos a mim, eu a entrar e tu direita a mim, enroscada nas minhas pernas, eu agachada e a parir-te, a lamber-te, a cortar com os dentes um cordão umbilical de outrem que, nesse instante, depois de o engolir era meu e teu, só nosso, esse que mais tarde te fez lamber as minhas feridas, lamber as minhas lágrimas, lamber os meus lábios quando sorria e a minha língua quando a gargalhada se soltava, cordão de amor enlaçado, entrelaçado, entrançado, em e nas noites em que te enroscavas nas minhas pernas, debaixo do edredão e me(te) virava e nem te mexias porque era eu, tu, nós, um corpo só que se virava, o nosso cordão desenlaçado, desentrelaçado, desentraçado, mas sempre nosso, meu e teu, união de amor, cordão de amor enlaçado, entrelaçado, entrançado, um colo meu e tu nele e eu no teu, em posição fetal, as duas, filha querida, catorze anos de amor desde o dia em que te pari sem dor mas a sentir-te sair de mim, o meu corpo a abrir-se, a minha língua a lamber-te, os meus dentes a cortar um cordão de outrem que depois de o engolir era meu e teu, entrelaçou-se, enlaçou-se, entrançou-se em nós e eu a sentir-te ir, o cordão a escorregar, eu a sentir, não sei em que lado, se do teu, se do meu, se no meio, se algures, o cordão, o cordão o quê? A desfazer-se? A escorregar? A despegar-se. É isso…o cordão a despegar-se … eu agarrada a ele, agarra-te a ele, não deixes que ele nos deixe, nos separe, não me deixes, imploro-te, não me deixes, não permitas que te separem de mim, a nossa raça vive dezasseis anos, ainda faltam dois, não vás filha querida, dois anos ainda de cordão, são muitos meses, muitas semanas, muitos dias, tantas e tantas horas de amor, união de amor… e depois é ano novo, é Janeiro de 2010, nenhuma data é boa, nenhum tempo é o certo, mas recuso a tua partida, não te deixes ir, fica comigo … fica comigo filha querida, no meu colo, um colo meu e tu nele e eu no teu, em posição fetal, as duas, tantas e tantas horas, não as podemos perder, são tão nossas, união de amor e não…nenhum momento, nenhuma hora, nenhuma data te dou para me deixares, recuso a tua partida, recuso lamber sozinha a ferida, esta que está a alastrar, a aumentar, já cheia de pus e sangue e dor e ai, dói-me pequenina, dói muito Michina, minha Michina querida..
dói-me tanto …
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. RIP
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